Dicionário Histórico de Termos da Biologia

Félix da Silva Avelar Brotero (1744-1828)

por Bruno Maroneze

09 de junho de 2025

Retrato de Brotero

Félix da Silva Avelar nasceu em Santo Antão do Tojal a 25 de Novembro de 1744, filho do médico José da Silva Pereira e Avelar e de dona Maria René da Encarnação Frazão. Ficou órfão pelo falecimento do pai, quando tinha 2 anos de idade, e a sua mãe, em decorrência disso, teve perturbações mentais foi internada; inicialmente, ele atuou como capelão cantor para angariar sua subsistência. Como à época era permitido formar-se na universidade apenas com a realização de exames (sem frequência às aulas), por três anos seguidos ele foi a Coimbra para fazer os exames, não tendo conseguido se formar devido à reforma universitária de 1772, que proibiu os exames sem frequência.

Em 1778, como redator das Gazetas de Lisboa, as suas ideias filosóficas e a amizade que o ligava a Francisco Manuel do Nascimento - Filinto Elísio (1734-1819) -, tornaram-no suspeito ao Santo Ofício,, de modo que ele decidiu se exilar, fugindo para Paris juntamente com seu amigo. Lá, adotou o apelido de Brotero (amante dos mortais), tendo permanecido por 12 anos. Nesse período, frequentou as aulas e institutos de ciências naturais, assistiu ao Curso de História Natural que Valmont de Bomare abriu em Paris em 1781, e às lições de Botânica de Brisson na Académie de Pharmacie. Concluídos os principais estudos de História Natural, doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, mas decidiu deixar a medicina e dedicar-se exclusivamente ao estudo da Botânica. Deixou Paris depois de haver presenciado os acontecimentos iniciais da Revolução Francesa e retornou a Lisboa em 1790, na companhia de Filinto Elísio.

Em 1788, um pouco antes de voltar a Portugal, havia publicado em Paris o Compêndio de Botânica. Pela reputação e conhecimentos, foi nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra. Logo após, iniciou a primeira escola prática de Botânica, reorganizando o jardim, que fora principiado sob a direção do antigo lente, Domingos Vandelli (1730-1816).

Em 1811, foi nomeado por D. João VI diretor do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda; foi jubilado (aposentado) por decreto de 16 de Agosto de 1811. Em 1820 foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura. Depois de ter assistido aos trabalhos legislativos durante 4 meses,se desiludiu com a política e pediu dispensa, que lhe foi concedida.

Principais contribuições científicas de Brotero

Enquanto esteve em Paris, Brotero manteve contato com grandes nomes da ciência da época, como Valmont Bomare (1731-1807), Vicq d’Azyr (1748-1794), Daubenton (1716-1800), Antoine de Jussieu (1748-1836), Buffon (1707-1788), Condorcet (1743-1794) e Lamarck (1744-1829). O seu Compendio de Botânica publicado em 1788 em Paris é o primeiro livro de texto do gênero escrito e publicado em português. Enquanto lente na Universidade de Coimbra, onde lecionou Botânica durante cerca de 20 anos, ganhou enorme prestígio entre estudantes e professores, em virtude da qualidade das suas aulas.

O seu trabalho Flora Lusitanica (1804) veio preencher um vazio existente em Portugal, uma vez que não existia até então um inventário completo da flora portuguesa. Brotero identificou cerca de 1800 espécies, muitas delas desconhecidas até então. Uma das principais contribuições deste trabalho é a criação de uma nomenclatura botânica portuguesa, até então inexistente. Depois de jubilado pela Universidade de Coimbra, foi nomeado Diretor do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa, onde prosseguiu as suas investigações botânicas.

Tendo ficado desagradado com a forma como a Flora Lusitanica foi publicada, começou a preparar uma outra obra, Phitographia Lusitaniae, em fascículos, onde integraria novas espécies, com ilustrações. O primeiro fascículo foi publicado em 1800, mas a obra só ficou completa em 1827.

É possível verificar o prestígio que Brotero tinha na Europa pela correspondência que manteve com prestigiados especialistas da época e pelo facto de botânicos como Sprengel, Cavanille, Willdenow, Boissier, Willkomm e De Candolle terem atribuído o nome de Brotero a plantas que identificaram. Foi membro de diversas sociedades: Horticultural Society de Londres; Linnean Society de Londres; Acadmia Real das Ciências de Lisboa; Société Philomatique; Société d’Histoira Naturalle de Paris; Physioographica Society de Lunden, Suécia; Sociedade de História Natural de Rostock; Academia Cesarea de Bona, e outras. Faleceu idoso, aos 83 anos, em Belém, Lisboa, a 4 de agosto de 1828.

Fontes

FÉLIX de Avelar Brotero. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2025. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9lix_de_Avelar_Brotero. Acesso em: 09 Jun. 2025.

REIS, Fernando. Félix da Silva Avelar Brotero (1744-1828). In: Ciência em Portugal: personagens e episódios. Instituto Camões, 2003. Disponível em: http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p6.html. Acesso em: 09 Jun. 2025.

Como citar este texto:

MARONEZE, Bruno. Félix da Silva Avelar Brotero (1744-1828). In: MARONEZE, Bruno (org.). Dicionário Histórico de Termos da Biologia. 2025. Disponível em: http://dicbio.fflch.usp.br/documentacao/BiografiaBrotero/. Acesso em: 06 Jul 2025.